Ilustres peixes do meu mar, falo convosco, quase pela mesma razão, que padre António Vieira falava com os dele. Atendendo ao apelo que é feito, para que os habitantes de Valverde participem mais na blogosfera, dando opinião sobre os diversos temas, aqui vos deixo a minha;
Olhai, peixes, lá do mar para a terra, que com tanta facilidade de aceder a livros e a outros meio de cultura e informação, é possível encontrar um sítio em Portugal, onde as pessoas não se importem de ser chamadas “soviéticas”! Acredito que muita gente, possa não saber praticamente nada sobre a U.R.S.S., pois de outra forma já mais aceitariam tal comparação. O regime das repúblicas socialistas soviéticas era ditatorial, comunista e imperava nele a falta de humanismo, razões mais que suficientes para que não se tenha orgulho em aceitar tão detestável nome. Cuidais peixes, que alguém tendo conhecimento deste facto histórico – político, e mesmo assim consinta a infeliz comparação, em meu entendimento estamos perante um problema de insanidade mental.
Outra coisa mais importante, que tanto ou mais me desedifica , quanto me lastima em muito dos sábios iluminados da história e da restauração valverdense, é que para além do conhecimento nessa área, têm o saber jurídico que lhes permite opinar e julgar se o património da Igreja é publico ou privado, é do povo ou do património da própria Igreja. A Concordata é o tratado internacional celebrado entre a Santa Sé e um Estado, usualmente com finalidade de assegurar direitos dos católicos ou da Igreja Católica naquele Estado. Muitas foram assinadas quando os Estados se laicizaram, como forma de garantir direitos para Igreja e permitir sua existência em tais países. A Concordata assinada entre a Santa Sé e Portugal refere no seu nº 2 do artigo 1º, que a república portuguesa reconhece a personalidade jurídica da Igreja católica, no nº 1 do artigo 9º diz que a Igreja Católica pode livremente criar, modificar, ou extinguir, nos termos do direito canónico, dioceses, paróquias, e outras jurisdições eclesiásticas. No nº1 do artigo 24º “Nenhum templo, edifício, dependência ou objecto afecto ao culto católico pode ser demolido, ocupado, transportado, sujeito a obras ou destinado pelo Estado e entidades Públicas a outro fim, a não ser mediante acordo prévio com a autoridade eclesiástica competente e por motivo de urgente necessidade pública”. Considerai pregadores vivos e iluminados de uma cultura paupérrima e cheia de nada, que as críticas que fazeis não são mais do que um apedeutismo exacerbado, querendo algo que não vos pertence. As maledicências que dizeis sobre aqueles que com boa vontade, sacrifício e sem segundas intenções trabalham para um bem comum, não fazem sentido, assim como também, a sugestão de qualquer tipo de referendo ao povo em geral. O património que por conveniência vos dói na alma, é da Igreja e se quiserdes fazer parte dela, então participai nas actividades que dela fazem parte, sacrificai-vos por um bem comum, e podereis sim, com legitimidade opinar sobre o património do Reino do Senhor.
Notai peixes, que se tem observado a um feroz aparecimento de “Doutores”, especialistas em História e restauro de Igrejas. Sem o mínimo de conhecimento e formação na área, acham-se capazes de criticar o projecto, sem o conhecerem minimamente e ainda pondo em causa o conhecimento e capacidade dos verdadeiros especialistas, o reverendíssimo padre, que é licenciado em história, os especialistas da direcção diocesana de arte sacra e da Câmara Municipal do Fundão, que aprovaram este fantástico projecto para aldeia. Mas peixes do meu mar, espero que os pregadores de mal dizer tenham a humildade de se informarem junto de quem sabe e no lugar da crítica gratuita e ignorante se desloquem até ao pároco da terra e se informem, pois um projecto como este já tem lugar no nosso concelho, Souto da casa e Póvoa da atalaia. Foram projectos bem sucedidos e ficou muito bem salvaguardado o património.
Com esta última advertência vos despeço, ou me despeço de vós, meus peixes. E para que possais ir consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, com tanta sabedoria e sentido de esclarecimento elevado, me despeço com amizade e com a convicção de que a mentalidade, é a grande urgência para ser restaurada e alargada nesta terra de sabedores que nada sabem.
Jorge Roque
Quem construiu a Igreja Matriz de Valverde?
ResponderEliminarSe não è do povo como apareceu ela?
ResponderEliminarSe o Povo não tem nada a ver com o que lá è feito e o que lá se passa para que precisam do dinheiro de todos nós, contribuintes do estado e individuos, para fazerem o que lhes apetece sem darem cavaco a ninguem?
ResponderEliminarCaro Jorge Roque
ResponderEliminarComeço por felicitá-lo pelo facto de, finalmente, alguém dar a cara neste espaço a favor das obras de ampliação.
Embora pessoalmente, tivesse esgotado os meus argumentos em relação a este assunto, acho que o seu comentário se reveste de uma forma e de um conteúdo que suscitam uma obrigatória resposta da minha parte, por vários motivos.
Em primeiro lugar, averbar de insanos quem, a título de pura rebeldia inocente, se auto intitula de soviético, revela uma forma bem particular de avaliar as coisas. Informo-o que, a título pessoal, não me agrada particularmente o epíteto, da mesma forma como, certamente, não me agradaria ser apelidado de “Santo Ofício”. Pois em ambos os casos carregaria sobre mim o peso de intolerância e genocídios, não é verdade? Penso que nenhum dos auto-intitulados “soviéticos” pretende colar-se ao regime comunista ou à sua ideologia (que as camadas jovens ignoram por completo, asseguro-lhe) e achar o contrário é não ter ainda conseguido enterrar o estandarte do anti-comunismo primário.
Sem querer defender ou fazer a apologia desse regime, estará o Sr. Roque com saudades do regime salazarista? Nesse regime não havia necessidade de concordatas pois a igreja católica confundia-se com o próprio estado. Nessa altura era “quem não está connosco é comunista”, princípio nada democrático, antes pelo contrário, princípio autocrático, que nada tem a ver com cristianismo.
Em segundo lugar, em relação à concordada, mesmo não sendo jurista nem ter tido, previamente, conhecimento da mesma, sei que o edifício aqui em debate é propriedade da Igreja Católica e por consequência privado. Nesses simples moldes, na qualidade de leigo, longe de mim a pretensão de me imiscuir em assuntos do foro da Igreja Católica. Porém, todo o caso muda de figura quando, tanto quanto sei, as obras que os Srs. pretendem levar a cabo serão financiadas, em grande parte, pelo erário público. Caro Sr. Roque, esse simples detalhe confere-me, na qualidade de cidadão contribuinte, o direito a emitir a minha opinião e deste não abdico nem abdicarei jamais. Levando esse detalhe ao extremo e interpretando o nº2 do artigo 1º da, por si citada, concordata, a presente obra, sendo realizada com dinheiros públicos, em boa fé careceria de acordo prévio com as entidades civis locais. Pergunto: onde está o acordo com a Junta e a Assembleia de freguesia?
Na questão que levanta sobre a possibilidade da matéria ser referendada, conforme eu próprio sugeri, saiba meu caro que também me informei e que verifiquei que, à luz da Lei Autárquica, este assunto não pode ser referendado por não estar juridicamente enquadrado. No entanto, informo-o que, apesar disso, existem inúmeras paróquias por este país onde foram realizados referendos informais em que os envolvidos, em boa fé, lhes atribuíram um valor vinculativo. Nenhuma lei proíbe esta prática. A isto caro amigo chamo civismo e verdadeira cultura democrática, que é o que defendo desde o início. Concluo este ponto reiterando que ninguém quer apoderar-se do que não lhe pertence. No meu entender, é lamentável verificar que, quando o Sr. Roque olha para a igreja, se limite a ver o edifício. Os valverdenses e os verdadeiros cristãos, esses, vêem muito mais e, imagino eu, vêem o que de facto lhes pertence por direito.
No ponto seguinte, gostava de salientar o dedo acusatório que aponta a todas as vozes contra, por não terem “o mínimo de conhecimento e formação na área” e não conhecerem o “fantástico” projecto. Pessoalmente, não sou formado em arquitectura, engenharia civil, história ou arte sacra e a bem da verdade, nem sequer me parece que esses pré-requisitos sejam necessários para aferir uma questão ligada à sensibilidade e ao bom gosto de cada um. Pessoalmente conheço o projecto apresentado e esse “desedifica-me”. Acusa os “Doutores” de arrivistas e de por em causa a literacia e a Licenciatura do Sr. Padre. Não estará o Sr. Jorge a por em questão as licenciaturas de vários intervenientes? Serão as licenciaturas de padres e das vozes afins as únicas reconhecidas por si como válidas? Será que, em última análise, é preciso ser licenciado para opinar sobre o “fantástico” projecto? Acho que nenhum interveniente deu algum parecer técnico em relação ao mesmo, nem sequer é isso que está em causa. Questionar por isso a habilitação das pessoas para opinar revela um nítido sentido de intolerância à crítica e à diferença o que, mais uma vez, é uma atitude muito pouco cristã. E se é de formação que se trata, parece-me que existem escolas onde se ministram cursos de intolerância e altivez. Pessoal e contrariamente à sua doutrina, valorizo a opinião de todos, até a sua.
Lembro-o que S. Pedro, o primeiro chefe da Igreja, era pescador, era iletrado. Foi pela sua ignorância que Cristo o escolheu?
Em último lugar, quero pedir desculpas ao meu amigo Sr. Jorge Roque por não possuir, à sua semelhança, o dom da eloquência. Só espero que o meu modesto “apedeutismo exacerbado” não fira as suas elevadas capacidades intelectuais e a sua erudição. Espero que esta humilde missiva o alcance, lá no alto da sua arrogância. Espero não o ofender com as minhas palavras pois não quero ser acusado de o plagiar na forma e no conteúdo.
Termino este desabafo aconselhando-o a reler Padre António Vieira. Notará que no seu sermão, S. António, ao invés do Sr. Roque, respeitava os peixes, não os tratava de forma pedante, com desdém. Quem, como o Sr. Roque, se auto-intitula de cristão, devia ter a humildade de o ser.
Quem o despeço sou eu…. Passe bem!
Luís António Brito Batista