terça-feira, 24 de janeiro de 2006

O Que Mudou????



O que mudou?
Começar um texto com uma interrogação não faz muito o meu género, mas foi essa emblemática pergunta que retenho do Post do nosso amigo Tito.
Mas que raio mudou e transformou assim este nosso anteriormente pacato burgo?
Seria pretensioso da minha parte julgar-me capaz de responder a essa pergunta pertinente.
Acho, no entanto, urgente ser-mos capaz de, pelo menos, identificar a mudança e saber lidar com ela.
Não terei sido a melhor testemunha das mudanças da última década, pois por motivos profissionais estive afastado a quase totalidade desses anos mas vou tentar aqui dissecar aquilo que, imagino, mudou realmente.
O nosso Tito expôs, e em boa hora, a sua preocupação e desagrado pela presença desses estranhos que buscam as nossas ruas escuras como se de bairros de junkies se tratassem.
É verdade que esses estranhos que nem dos carros saem não vêm em nada ajudar a limpar as nossas nódoas, muito pelo contrário. Mas disso já falei e o Tito também.
É claro que a solução do desprezo é sempre uma opção a considerar mas todos sabemos que não irá evitar o regresso dos mesmos e o agravar futuro das nódoas.
Como não existe um Tide ou um Skip eficaz para estas coisas, o melhor a fazer é mesmo tentar perceber o que os leva a frequentar as nossas ruas e tentar encontrar uma solução para o problema.
Então mas o que mudou afinal?
Espero não correr o risco de más interpretações ao falar no estranhos e dar a ideia inicial que os nossos males vêm de gente de fora ou que as nossas nódoas foram criadas por esses mesmos estranhos. É claro que prezo o novo cosmopolitismo de Valverde, acho-lhe piada até e, como diz o Joãozinho, Valverde é bem capaz de estar na moda.
Pena é que talvez o esteja pelas razões erradas.
Esperando não ser mal interpretado, vou tentar expor na forma mais simples e resumida a minha cadeia de pensamentos sobre o assunto.
Há 10 anos, ou um pouco mais até, Valverde era de facto uma aldeia. Toda a gente se conhecia, as pessoas eram de facto identificadas pela sua alcunha ou local de residência. Valverde, pela proximidade do Fundão, vivia bastante recolhida sobre si própria, as pessoas eram bastante impermeáveis a tudo o que vinha de fora, quer fossem pessoas, quer fossem maneirismos ou modas. Eram conhecidos pela região como "Os Soviéticos" pela sua frontal adopção da "esquerda" do espectro político e, mais tarde, transformando a alcunha num sinónimo de arruaceiros que viviam no claustro intransponível que era a nossa Freguesia.
De facto, raras eram as pessoas que frequentavam outras aldeias ou mesmo o Fundão e o normal era, até, os Valverdenses casarem com Valverdenses.
Não sei se foi a democratização do automóvel que, gradualmente, veio mudar estes hábitos, mas o certo é que em menos de uma década, estes hábitos sofreram uma grande mudança. A juventude de Valverde começou a frequentar outras localidades e, acima de tudo, os bares e discotecas do Fundão, Covilhã e Castelo Branco. Em Valverde só existiam tascas onde as raparigas raramente punham os pés, em contrapartida, começavam a nascer bares nessas cidades como cogumelos. A escolha era clara. Paralelamente, as cidades começavam a crescer, atraindo cada vez mais pessoas das aldeias distantes.
Assim, Valverde foi ficando cada vez mais próximo do Fundão, deixando de ser uma aldeia autónoma e "orgulhosamente só" para passar a ser uma grande Freguesia suburbana. Inevitavelmente, o bares começaram também a aparecer em Valverde. Numa primeira era, os bares de Valverde eram quase exclusivamente frequentados por gente da terra. Pouco a pouco, amigos dos proprietários, vindos de outras paragens, começaram a vir beber uns copos e com estes cada vez mais gentes de outras localidades. Como não existe cá um posto da GNR, era mais fácil extravasar e soltar toda a loucura que havia em nós. Mesmo que alguém ligasse a fazer queixa, a GNR ou chegava tarde ou ainda acabava por ser gozada, afinal só seriam uns 3 contra muitos. Este sentimento de impunidade acabou por levar a que não houvesse qualquer pudor em fumar o porrito em locais anteriormente "vedados". É tudo uma questão de "vergonha" como diz o Tito. Basta um, que até nem é de cá e se "tá a cagar", acender um ali mesmo para que não tarda e é imitado por um rebanho deles. Todos nós passamos a fase de esticar a corda. Não é uma sensação boa?
Há quem cresça tardiamente...
Mas voltando a cadeia de ideias, o tempo foi passando e foi dando azo a abusos.
Claro que a imagem que foi passando para fora foi a da impunidade, de onde podemos beber uns copos valentes, fumar uns porros sem necessidade de ir para o alto da serra, mesmo ali, que depois até damos umas aceleradelas lá nas rectas ou vamos sacar, tudo na buínha.
Pois meus amigos, eu acho que no fundo, se as coisas se tornaram no que são, se há gente que vai ali só para isso como se aquilo fosse um bairro de dealers da capital, se essas pessoas o fazem, meus amigos, grande parte da culpa É NOSSA!
É nossa na medida em que fomos permitindo que as coisas chegassem a esse ponto e continuamos a olhar para o lado ignorando, fingindo que o problema não é nosso. Afinal, alimentamos esta imagem tanto tempo que agora somos vítimas do nosso próprio sucesso. Mas o problema é nosso e bem nosso, a não ser que pretendam em breve ir viver para sempre para outro lado e levar toda a vossa família.
Viver numa área suburbana tem vantagens e desvantagens e temos de aprender a viver e lidar com ambas. Temos de pensar muito bem em se estamos dispostos a ignorar a parte menos agradável a pagar ou se pudemos, puro e simplesmente, evitar essa parte da factura. Pensem só no seguinte, nos subúrbios das grandes cidades francesas, toda a gente olha para o lado há décadas. Viram o resultado?
Não quero viver num freguesia suburbana como é Valverde em que terei medo de sair para tomar café porque é frequentada por gente em quem não posso confiar.
Repito que este não é um discurso xenófobo ou contra quem nos vem visitar porque quem vem por bem é sempre bem-vindo. Aliás, os mete-nojo devem ter rosto e nome e não deve ser necessário fazer uma caça às bruxas para os identificar.
Repito também que a culpa é todos nós por ter permitido que as coisas tomassem as proporções que tomaram. Comparo a actual aura de Valverde aquele que ostentou a então "Aldeia do Carvalho" no final dos anos 80. Quem queria um porro ia até lá porque, supostamente, era onde estavam os dealers. Não acredito que fosse bem assim mas de certeza que essa fama foi o produto de dois ou três idiotas que se esmeraram no marketing.
Pessoalmente, estou no limiar da tolerância a esses visitantes demasiado frequentes e acho que todos aqueles que ainda gostam um pouco da nossa "União Soviética" devem tomar atitudes antes que seja tarde.
Aquele abraço

3 comentários:

  1. Boa foto, grande texto. Acho que encerraste a questão... Bullseye!

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  2. Obrigado tito mas não sinto ter encerrado a questão, muito pelo conhtrario. acho que devemos criar um debate construtivo em torno do assunto, a minha intenção é despertar para o problema e desencadear o debate de ideias, não fornecer verdades absolutas que não tenho...

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  3. Olá, estou mt contente por alguem ter a coragem de revelar a mudança que se apoderou de Valverde-city.
    Vamos unir-nos contra que tenta destruir a imagem dos "suvieticos" porque que esta mal que se mude.
    Nao podemos deixar que continuen a destruir a nossa imagem!!!

    ASS: Daniel R

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