Estando eu à beira de completar metade da minha esperança de vida, recordo-me de um tempo em que se um valverdense, residente no Carvalhal, precisasse de uma singela caixa de fósforos, tinha de se deslocar ao povo, como se dizia naquele tempo quando se falava de Valverde. O lugar do Carvalhal era, nesse tempo, um lugar sombrio onde residia pouca gente. Não tinha qualquer comércio ou cafés e só era iluminado e alegre durante os festejos de Agosto. De facto, as pessoas deslocavam-se a Valverde a fim de realizar as suas compras. Ali existiam, se a memória não me falha, pelo menos uns quatro estabelecimentos que faziam de mercearia, café ou ambas as coisas. Só a partir do final dos anos setenta é que as coisas começaram a mudar. Não contando com o café do Sr. João Leandro, do qual não me recordo, o primeiro estabelecimento a abrir as portas no Carvalhal foi o café do João David. A seguir veio o café e mercearia da Sra. Lurdes tendo aberto pouco tempo depois a loja da minha mãe. O resto é já conhecido. A abertura destes estabelecimentos marcou o Carvalhal, dando-lhe um estatuto de autonomia face à sede de freguesia. O Carvalhal ganhou vida própria e foi crescendo, tendo hoje tanto ou mais habitantes que Valverde. Este progresso todo, pautado pela chegada e desenvolvimento do comércio, parece estar condenado a um revês em nome do progresso civilizacional.
O que quero dizer com isto é que, em nome da modernidade, da convergência com a Europa etc., criam-se leis, regras e mecanismos que asfixiam os pequenos comerciantes e não lhes deixam outra alternativa se não fechar as portas. Parece que vamos voltar ao Carvalhal dos anos setenta, sem uma única loja onde comprar fósforos ou papel higiénico. Sim porque, hoje em dia, já não há cafés a vender papel higiénico nem arroz. Por mim “tasse” bem, agora espero bem que a ASAE desenvolva um sistema de entrega ao domicílio ou de transporte, seguro e devidamente convergente com as normas comunitárias, a fim de levar os pacotes de arroz e açúcar as nossas velhotas. Isto só porque não as imagino de carrinho de compras deambulando pelos corredores do Modelo. Viva o progresso e viva os conglomerados e as grandes cadeias de hypermercados que tornam o mundo dos humanos na coisa menos humanizada que pode haver. Pensem que em Portugal já há mais pessoas com mais de 60 anos que com menos de 15. Agora pensem no futuro próximo e vão anotando as rotinas dos vendedores ambulantes, sempre pode vir a dar jeito…
Pois.. e quem diz o pequeno comércio diz muitas mais actividades...
ResponderEliminar"Big fish eat the little one"...
Não se pode fazer concorrência aos sanguesugas da sociedade, e estes politícos de meia tigela, cobardes e corruptos só obedecem como cães aos grandes patrões deste país e à Europa que nos retira a nossa identidade.
ResponderEliminarHoje existe uma cultura de centro comercial instalada por este país fora. Os preços são mais convidativos. Quando as grandes superfícies começarem também a apostar no interior do país, como vai acontecer em Castelo-Branco, o nosso pequeno comércio vai mesmo morrer, não haja dúvidas. Os senhores da ASAE (Pide comercial) só estão a antecipar o inevitável cumprindo ordens da Gestapo lá de cima. Saudações Soviéticas.
ResponderEliminarConcordo com as opiniões aqui transmitidas, mas não se esqueçam que as ditas mercearias, no seu devido tempo também enganavam as pessoas que ali faziam compras. Alguém se lembra da mercearia do Sr. João da Cruz que fechou precisamente por ter sido denunciado por uma situação obscura do petróleo dos motores de rega?
ResponderEliminarSe fossem criados mecanismos que permitissem aos pequenos comerciantes concorrer da mesma forma com as grandes superficies tudo mudava, mas comprar um pacote de bolachas po 0,20€ no Hiper e na mercearia já custa 1€ tb doi´.
ResponderEliminarO poder dos grandes grupos é que controla este país e não o governo.
Não te esqueças que o governo é quem manda, pelo menos é o que diz a constituição, e deve governar para o povo e não contra o povo. Mas o governo só governa os grandes interesses económicos e dá-nos os desinteresses porque é constituído por fantoches e fantochadas.
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ResponderEliminarOh pah... Eu ainda não tinha dito nada porque prontos. Mas o que se está a passar consiste em pôr o dinheiros dos (cada vez menos) contribuintes a mexer através da "modernização" obrigatória pela UE. A UE não disse que isso era para ontem por isso em Espanha não há ASAE nenhuma e toda a gente trabalha na mesma, agora com aconselhamento, financiamento, e prazos razoáveis. Para modernizar.
ResponderEliminarO dinheiro sai para empresas de equipamento e certificação, higiene e afins. Ao mesmo tempo criam-se postos de emprego nessas mesmas empresas e na Função Pública ara que tudo corra como planeado. Ora já temos o Emprego e a Economia a mexer. Ah, o nosso bem-estar está assegurado pois o que comemos está tudo limpinho e desinfectado, condenando o nosso sistema imunitário à morte e as farmácias e consultórios médicos da região a um sucesso nunca antes visto. Onde é que eu ia? Emprego, Economia... Ah, criação de novas empresas! Como os pequenos comerciantes, já na meia-idade, e com a velhice assegurada, não estão para gastar dinheiro que nunca irão recuperar para se porem "modernos" os estabelecimentos fecham e, supostamente abriram novos estabelecimentos, financiados pelo Centro de Emprego, fresquinhos para a crise que aí vem.
Vamos então à rua Faz de Conta na aldeia de Não-Existe, onde a Ti Maria tem uma mercearia no rés-do-chão da casa, com estantes de madeira e sem casa de banho. Chega a ASAE e fecha a porta. A aldeia Faz de Conta tem 22 habitantes, todos idosos, todos clientes da Ti Maria. Como é? Excursões Domingo à tarde ao Serra Shopping?
Nada nesta merda de país é feita em condições!
P.s: Ó anónimo,conta lá a história do João da Cruz em condições, não me leves a mal, mas o teu comentário também foi obscuro.
Mais nada, Quem quer vender que tenha condições, não é vender a 200% produtos que podiam ser vendido a 50%. realmente vamos à fronteira e é ver estabelecimentos espanhóis e ver os portugueses. Tirem as vossa conclusões.
ResponderEliminarSe o amigo anónimo não me levar a mal eu conto aqui a história do fecho da mercearia do sr. João da Cruz. Nos anos 80 do século passado, só havia dois estabelecimentos em Valverde que vendiam o chamado petróleo para os motores de rega. Um era o já referido Sr. João e o outro era aquele estabelecimento que ficava ao pé da menina Celeste, mas já não me lembro do nome (uma casa verde quando se desce para o Nosso Senhor). Sabendo antecipadamente desse aumento, uns dias antes, o João da Cruz, com ainda bastante petróleo, dizia aos fregueses que já não havia e que passassem por lá só no dia tal que já haveria. Mas, felizmente, na nossa terra sempre existiram mentes curiosas e espertas que descobriram tudo e denunciaram o caso às autoridades, que durante a noite descobriram um armazém com petróleo antigo a ser posto em garrafões com o novo preço. Não posso é dizer os nomes das pessoas que descobriram a falcatrua sem a devida autorização. Só posso é dizer que se não fosse a vida bohémia que sempre existiu na nossa aldeia, incluindo o Carvalhal que sempre foi parte integrante da nossa freguesia, mesmo contra a vontade de alguns fraccionários ortodoxos, nada disto se teria descoberto e as pessoas teriam sido muito bem enganadas, pagando novo aquilo que era velho.
ResponderEliminarE água mo leite e no vinho, balanças traficadas, produtos fora da validade, etc. etc. etc. etc. Todos os ramos de negócio tiveram e têm falcatruas, acho que o recordista disso até era o Super Mercado Fernando do Fundão. Mas daí a por tudo no mesmo saco e achar que todos os comerciantes eram tendencialmente desonestos é pernicioso. Quero acreditar que não foi isso que o anónimo quis dizer, por se acredita que a Santa Maria ASAE e as normas CEE vão acabar com a vigarice é melhor deixar de acreditar no sistema capitalista e na livre iniciativa. Todos os dias somos enganados e por empresas bem legítimas a credenciadas… Esta história do petróleo é típica de uma época e uma geração, a conjuntura da época é que levava a isso (digo eu com os nervos). Quanto a apontar o dedo, acredito piamente que, mesmo os que o denunciaram, não foram espelhos de virtude e, tal como eles, que atire a primeira pedra aquele que nunca enganou ninguém em proveito próprio…
ResponderEliminarAh! esqueci-me de dizer que sou carvalhalense mas não necessariamente fraccionário ortodoxo. Sou-o de nascença e, embora não pretenda fracturas, gosto de fazer a distinção. E alem disso costumo assinar bom 3xL, BxL ou até com o meu nome próprio: Luis Batista. Fico feliz por este post ter relançado a discussão no blogue, so gostava de saber, as vezes, com quem estou a falar. Sempre ajuda um pouco ao debate...
ResponderEliminarAmigo Bxl, isto de não saer com quem se fala até é porreiro quando as pessoas se exprimem dentro do "razoável". Pela parte que me toca, e na minha área de trabalho constato que, há desrespeitos às normas de higiene que estão em frente aos olhos do cliente e este pura e simplesmente não liga. Quanto à ASAE, podem exigir todos os planos de higienização e superfícies laváveis que quiserem, mas quem é bacorinho, há-de sê-lo sempre. Quando vejo padarias na TV, com furos de captação de água no espaço de fabrico, e que fornecem àgua para massas acho que a pena de prisão é aplicável nalguns casos, mas o que está a acontecer é surreal! Eu paguei 550€ por 30 lts de produtos de higiene cuja ÙNICA DIFERENÇA dos que usamos em casa é serem certificados!!! Isto não é tacho!?!?
ResponderEliminarVoltando ao assunto das trafulhices... Esperem 3 anos e vão ver o que são trafulhices. O Estado não está a dar hipótese ao Trabalhador em Nome Individual, e qualquer dia andamos todos a roubar, à cowboy.
Quanto ao Sr Fernando, conheço-o desde a infância, e forneceu produtos ao meu pai mais tempo do que isso, e nunca houve qualquer problema.
Tou cheio de paleio, desculpem lá.
ResponderEliminarAinda em comentário à posição do crocodilo em relação aos preços. Quem percebe um bocadinho de economia sabe que quanto maior é a quantidade comprada melhor é o preço. Ora quem tem pequenos estabelecimentos não pode comprar grandes quantidades por causa da validade dos produtos, não tem movimento suficiente, logo, compra os produto praticamente ao mesmo preço que você, no hipermercado. Há abusos, há, mas não generalize.
Por causa da luta contra os conglomerados, declaro que este meu comentário (e os outros) foram escritos num navegador chamado Firefox, a correr num PC portatil cujo sistema operativo é a variante UBUNTU do LInux. O que isso tem? Muito, é tudo software gratuito e livre... Ou seja, não pago um centavo a microsoft ou a apple ou outro gigante desses. Mas isso sou eu com o meu mau feitio ortodoxo :D
ResponderEliminarAmigo 3XL não me leves a mal, mas longe de mim considerar-te um ortodoxo. Quanto a lançar a primeira pedra tens razão, mas que a história aconteceu, aconteceu...
ResponderEliminarCCCP. Eu sei que aconteceu, já me tinham contado.Abraço soviético entoando a internacional :D
ResponderEliminarEm relação ao anonimato, penso como o o Tito C. Desde que as pessoas tenham respeito e não entrem em discursos ofensivos não vejo qual é o mal. Agora quando se entra por esse campo, as pessoas com certos direitos no blog podem e devem censurar linguagens e intervenções que não adicionam nada de positivo e que só servem para marcar posições medíocres e sem contexto.
ResponderEliminarPeço desculpa pela minha ignorância em termos económicos, mas que existem pquenos estabelcimentos na fronteira e para lá dela com preços muito mais convidativos para o portuga lá isso existe.
ResponderEliminarAmigo réptil, desculpa lá o mau génio, mas aqui o blog já me cansou um bocado. Quanto aos preços na fronteira... É o que dá investir os Fundos Europeus com cabeça. Quando entrámos para a UE estamos praticamente ao nível de Espanha. Mas a Mitsubishi lá não vendeu tantas carrinhas como cá! Enfim, mentalidades...
ResponderEliminarEstão a ver como estes assuntos sociais despertam a vontade de dialogar e como são importantes discuti-los.
ResponderEliminarQuanto à Mitsubishi, também temos que referir a Mercedes, a BMW e jipes de outras marcas. E não esquecer plantações fantasmas e rebanhos partilhados.
Vivemos para nos enganar uns aos outros e em Portugal então...
ResponderEliminarJá agora é Comércio Tradicional não Tardicional, errar no computer é totalmente humano, sem ressentimentos.
ResponderEliminarÉ esquisito este blog. No week-end não funciona. Já agora uma simples pergunta: porque é que existem tantos nomes ligados ao blog e só duas a três pessoas é que postam? Os outros não têm ideias?E aqueles que comentam são tão poucos?Pois é, estamos em Valverde, onde poucos trabalham e os louros vão para quem não faz puto.
ResponderEliminarVou jantar.
ResponderEliminarCom tanto anónimo já nem sei quem é quem. O blog não fecha ao fim de semana, pelo menos que eu saiba. Tens razão, tanto nome e ninguem posta nada. Se quiseres dou-te voz e poderás postar, já que ninguém o faz. É so pedir, alias quem quiser é só pedir... Abraço
ResponderEliminarAinda bem que existem muitos anónimos a participar, como já referi, dentro do racional. Quanto a postar vou pensar num bom tema para não postar por postar. Abraço a todos os participantes e uma boa semana.
ResponderEliminarComo é que se pode postar?
ResponderEliminarO bird está atrasado com resumos do fim de semana. Tenho que colocar resultados na caderneta.
ResponderEliminaranonimo. manda o teu mail para mim, tarola@hotmail.com e dou-te voz para poderes postar... Tão simples como isso
ResponderEliminarIsto já começa a ser um verdadeiro fórum. Boas participações, boas opiniões, independentemente das suas ideias e um blog onde as pessoas falam sem insultos. Ao contrário de muitos que querem dar nas vistas e só se tornam obseletos.
ResponderEliminarPois é. Passo aqui muitas vezes, pois sempre vou tendo algumas notícias da nossa terrinha. Achei muito interessante todos estes comentários aqui encontrados.
ResponderEliminarNo entanto, acho espantoso como determinadas pessoas opinam sobre casos (Sr. João da Cruz) que se passaram faz muitos anos, nem sei se eram nascidas, com uma certeza espantosa daquilo que dizem. Não vou comentar tudo o que se disse, uns com mais razão outros nem por isso.
Quanto às grandes superfícies, é um caso consumado. O consumidor só tem a ganhar com isso. Quanto ao comércio tradicional, basta apostar na qualidade para se ter sucesso, há uma padaria à minha porta que se faz fila para comprar pão, conheço pessoas que fazem quilometros para o comprar. Existe uma mercearia mesmo ao lado, com o mesmo sucesso, frutas e legumes da melhor qualidade. Basta apostar na qualidade.
Quanto ao Blog, continuem a dar-me notícias da nossa terra.
Abraços a todos
Sílvio Roque