terça-feira, 17 de janeiro de 2006

Parabéns

Como descobri o Blog há pouco tempo, só agora pude parabenizar o autor deste projecto. E uma vez que é para falar bem, ao menos que se faça publicamente. Parabéns, Valter.
Não sei se ainda poderei ser considerado “da terra”, uma vez que agora moro no Fundão. Mas, como me sinto soviético e gosto da terra, acho-me no direito de também poder falar neste espaço. Valverde está na moda. Para confirmar esta tese basta ver quantos forasteiros frequentam os bares e os locais lá da Urbe. Mas muita da fama e do uso do nome Valverde não se adequam ao sentimento de quem lá vive – ou viveu, em tempos idos, quando telemóveis, leitores de mp3… a famigerada globalização não governavam o mundo. Valverde, a aldeia geradora de sentimentos suficientes para produzir ideias peregrinas como sites, blogs e festivais de verão, não é a actual. A nossa aldeia, pelo menos a que eu recordo, era a aldeia dos matraquilhos no Zé Guerra – onde o pombinho era rei –, dos gelados de groselha no Tó Francisco – com palitos nos cuvetes de gelo –, dos jogos Arcade em todos os cafés – aqui era o Borregueta, o Metal, e mais tarde o Samuel, que reinavam consoante o jogo –, mas era também a aldeia das pessoas. Lembro e recordo com saudade uma forma particular de comércio: as mercearias com o café ao lado. Quem não se lembra da Dona Soledade, do talho do Nosso Senhor, a menina Celeste e o senhor Horácio, o Zé Guerra e a menina Ana e os irmãos do Guerra no carvalhal, com os bancos rotativos? Isso é que eram locais de convívio. Dava para os pais, para as mães e para a canalha que pedinchava umas moeditas de chocolate, um brinquedo foleiro ou até umas sapatilhas F. Neto. Mas lembro-me sobretudo de nomes, apelidos e alcunhas que nunca vão desaparecer. Valverde era uma aldeia com uma estrutura definida e era essa estrutura que a caracterizava. Os nomes, as profissões, o local de residência ajudavam a essa caracterização, mas era a idade que catalisava os comportamentos. Os que tinham menos de 11/12 anos não existiam, os de 13/14 ansiavam por serem aceites pelos mais velhos (Na minha altura, só queríamos beber um fino com o Metal, com o Pássaro, com os Rolos, com o Vicente ou o Sílvio e pertencer ao grupo deles) e respeitávamo-los com deferência. O grupo dos 13/14 não mandava em nada e o mais arriscado a que se dispunham fazer era beber um finito ou fumar um cigarro. Quanto aos mais velhos, só queriam beber uns copos, jogar futebol e engatar umas miúdas no Kredo ou no English. Mas também eles tinham o Faneca, o Zé Luís, o Luís Moleiro, o Tó Manel, talvez até o Jerónimo, sei lá mais quem, num patamar acima. Depois havia o pessoal mais velho, já casado e empregado, e os velhotes. Esses estavam lá, frequentavam os mesmos locais, mas não chateavam nem eram chateados. De resto, quase não havia visitantes. As outras freguesias eram adversárias e era raro alguém frequentar assiduamente uma freguesia vizinha. Valverde era assim. O resultado somos nós todos. Agora é tudo diferente.

5 comentários:

  1. Olha, começo por te parabenizar a ti, Joãozito, quer pela tua participação, quer pela tua escrita impecável mas sobretudo pelo bom momento que me acabas de proporcionar. Tinha-me de facto esquecido de olhar de forma nostálgica para a nossa aldeia e para todos essas pessoas e lugares que a caracterizaram tão bem. Agradeço-te também me ter alertado para o pormenor do quanto as coisas mudara. Talvez por acompanhar mais ou menos de perto ets mudança não me tenha dado conta da sua amplitude. Acho obrigatório olhar-mos de forma isenta e emocionalmente distante para o nosso passado recente, de forma a poder, sobre ele, escrever bem. E nisso conto com o teu contributo. E mais uma vez tens razão, parabéns ao Valter pela iniciativa.

    ResponderEliminar
  2. Bem vindo João.Falar desses dias e lembrar momentos da nossa infância faz-me compreender o que vejo nos miudos de hoje, um pouco mais de falta de respeito mas sabendo também que os tempos mudaram.
    Continua a aparecer e um abraço do pássaro.

    ResponderEliminar
  3. Eh pah, deixem de me parabenizar (isto é um neologismo, não é?), já começo a ficar encavacado...

    ResponderEliminar
  4. quem fala assim não é gago!boa manito. parabens a ti e a todos...

    ResponderEliminar
  5. A mim até me veio uma lagrimita ao olho, e mais não sou de Valz.
    Mas lembro-me bem desses tempos, oh se lembro!

    ResponderEliminar